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A púrpura tíria (também púrpura de Tiro ou púrpura-de-Tiro; em grego: πορφύρα, porphyra; em latim: purpura), também conhecida como vermelho fenício, púrpura fenícia, púrpura real, púrpura imperial ou tintura imperial, é uma tinta natural de coloração vermelho-púrpura, extraída de caramujos marinhos, e que provavelmente foi produzida pela primeira vez pelos antigos fenícios. Esta tinta tinha grande valor na Antiguidade por não desbotar - ao contrário, ela se torna gradualmente mais brilhante e intensa com a exposição ao tempo e à luz do sol.
O nome "Tíria" refere-se a Tiro, Líbano. É secretada por várias espécies de caramujos marinhos predadores da família Muricidae, caracóis de rocha originalmente conhecidos pelo nome 'Murex'. Nos tempos antigos, extrair esse corante envolvia dezenas de milhares de caracóis e muito trabalho e, como resultado, o corante era altamente valorizado. O composto colorido é 6,6'-dibromoíndigo.
A púrpura tíria era cara; segundo o historiador Teopompo, do século IV a.C., "a púrpura para as tintas valia o seu peso em prata em Cólofon", na Ásia Menor. Estes custos transformavam os produtos têxteis que utilizavam a púrpura tíria em símbolos de status, e as antigas leis suntuárias ditavam e até proibiram o seu uso. A produção dos animais que forneciam a tinta era controlada com rigor durante o Império Bizantino, e subsidiada pela corte imperial, que restringia seu uso para a pintura das sedas imperiais; o filho de um imperador no poder era chamado de porfirogênito (porphyrogenitos, "nascido na púrpura"), tanto referindo-se à Pórfira, o pavilhão do Grande Palácio de Constantinopla revestido de pórfiro onde os herdeiros do trono nasciam, quanto à púrpura que futuramente trajariam.
A substância consiste de uma secreção mucosa da glândula hipobranquial de um dos diversos caramujos marinhos encontrados no Mediterrâneo Oriental, o gastrópode marinho Murex brandaris, o murex espinhoso Bolinus brandaris (Linnaeus, 1758), o murex listrado Hexaplex trunculus, e o Stramonita haemastoma.
No hebraico bíblico, a tinta extraída do Murex brandaris era conhecida como argaman (ארגמן). Outra tinta, extraída do Hexaplex trunculus, produzia uma cor índigo chamada de tekhelet (תְּכֵלֶת), usada em vestes trajadas para funções rituais.
Diversas espécies de moluscos da família Muricidae, como por exemplo o Plicopurpura pansa (Gould, 1853), das regiões tropicais do Oceano Pacífico oriental, e Plicopurpura patula (Linnaeus, 1758) da região do Caribe, no Oceano Atlântico ocidental, também produzem uma substância semelhante (que se transforma numa cor púrpura duradoura após exposição à luz do sol), e esta característica foi também explorada pelos habitantes locais nas regiões de ocorrência destes animais. Alguns outros gastrópodes predatórios, como os membros da família Epitoniidae, parecem produzir uma substância similar, que ainda não foi estudada nem explorada comercialmente. O molusco Nucella lapillus, do Atlântico Norte, também pode ser usado para produzir tintas púrpura e violeta.
Na natureza estes moluscos utilizam esta secreção como parte de seu comportamento predatório, e para funcionar como uma camada antimicrobiana que cobre seus ovos. O molusco secreta esta substância quando é tocado ou atacado fisicamente por humanos, portanto a tinta pode ser extraída através de um processo de "ordenha", que embora seja mais trabalhoso é um recurso renovável, ou através do método destrutivo, que consiste da coleta dos moluscos e do esmagamento de suas conchas. Segundo David Jacoby, "doze mil conchas de Murex brandaris não produzem mais que 1,4 g de tinta pura, suficiente apenas para colorir a bainha de uma única veste."